Em dois anos, mais de 150 agentes de saúde de 20 municípios da região Norte de Minas Gerais foram treinados para usar o Sistema de Informação em Saúde Silvestre – SISS-Geo. Entre os dias 5 e 7 de julho, foi a vez de gestores e agentes de combate às endemias das cidades de Novorizonte, Fruta de Leite, Rubelita, Santa Cruz de Salinas e Padre Carvalho, da microrregião de Salinas, conhecerem a plataforma. Eles participaram da “Capacitação para a Descentralização das atividades do Programa de Controle de Febre Amarela”, ação fruto da parceria entre a Secretaria da Saúde de Minas Gerais, Fundação Ezequiel Dias, Centro de Controle de Zoonoses de Belo Horizonte e o campus Salinas do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais.
Como o foco da atividade é a vigilância da febre amarela, os participantes foram incentivados a registrar principalmente Primatas Não Humanos - saudáveis, doentes ou mortos - na região. Além do treinamento para uso do SISS-Geo, também foi realizada instrução para a coleta de amostras de vísceras e sangue de Primatas Não Humanos (soinhos, guaribas, macacos-prego e outros) para realização de testes laboratoriais que detectem o vírus da febre amarela. Houve ainda debate sobre a doença, vetores e hospedeiros, e as ações para identificar rapidamente a circulação do vírus, proteger a população e evitar a reurbanização.
Divulgação do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais
Um elo importante na difusão desse conhecimento e na divulgação do SISS-Geo na região é o Dr. Filipe Vieira Santos de Abreu, professor do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais. Ele é biólogo, mestre em parasitologia e doutor em biologia parasitária pelo IOC/Fiocruz. Sua tese foi sobre doenças transmitidas por mosquitos, com foco principalmente em febre amarela e malária. Filipe conta que conheceu o SISS-Geo na época do grande surto de Febre Amarela que acometeu o Sudeste há cerca de cinco anos e se engajou como multiplicador. “O SISS-Geo se tornou uma ferramenta importante para o monitoramento das epizootias, que naquele caso eram mortes de macacos durante o surto de febre amarela”, lembra.
Histórias de experiências SISS-Geo
Após terminar o doutorado no fim de 2019, Filipe de Abreu retornou a Salinas com a intenção de divulgar o SISS-Geo e fazer treinamentos de sensibilização para que os agentes do Norte de Minas fossem capacitados para detectar epizootias e utilizar o SISS-Geo para registrá-las - além de notificar pelas formas oficiais, como a ficha do SINAN - Sistema de Informação de Agravos de Notificação. “O Norte de Minas é um corredor de entrada do vírus da febre amarela. Então, sempre que o vírus avança até Goiás, vindo da Amazônia, provavelmente entrará em Minas. Por isso, seria muito bom que as equipes de saúde daqui da região estivessem sensibilizadas para perceber e notificar essas epizootias”, explica o biólogo.
Ainda em 2019, Filipe participou da elaboração de um projeto para o edital do CNPq sobre doenças negligenciadas. Esse projeto é o Febre Amarela BR, coordenado pelo professor Paulo Michel Roehe da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “A ideia era utilizar ferramentas matemáticas, modelagens e ferramentas modernas, digitais, como o aplicativo do SISS-Geo, para aperfeiçoar a vigilância de FA (febre amarela) nessas regiões. Também buscamos visitar diferentes municípios, capturar vetores e Primatas Não Humanos nesses locais e sensibilizar os agentes para utilizarem o SISS-Geo. Com base em todas essas informações, a gente conseguiria construir mapas de risco e fazer a detecção precoce da FA em todas essas regiões”, conta Filipe.
Divulgação do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais
O biólogo e sua equipe já visitaram mais de 20 municípios, treinando mais de 150 agentes. Filipe de Abreu relata casos bem-sucedidos, em que foi possível executar políticas públicas para evitar surtos de FA em humanos: “felizmente, o SISS-Geo foi importantíssimo para a gente detectar um surto de FA que aconteceu entre agosto e setembro do ano passado. Com essa rede de contatos que construímos, pudemos detectar uma epizootia no município de Icaraí de Minas e Ubaí. Fomos até lá, conseguimos coletar as amostras e confirmar a circulação do vírus. O estado, então, intensificou as ações de controle”.
O plano de Filipe, junto com o IFNMG (Instituto Federal do Norte de Minas Gerais) e o projeto Febre Amarela BR, é continuar expandindo o uso do SISS-Geo para novos colaboradores. "Queremos que a população em geral, principalmente os mais jovens, conheçam e utilizem a plataforma. A gente tem feito visitas em parques estaduais, conversado com os agentes de campo, os guardas florestais do Instituto Estadual Federal, porque eles podem ser os primeiros a detectar uma epizootia. Quanto mais pessoas utilizarem a plataforma, melhor”, afirma o professor.
Mais informações aos profissionais de saúde em https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/boletins/epidemiologicos/edicoes/2020/boletim-epidemiologico-vol-51-no-01/view