Conservar a saúde silvestre é garantir também a saúde humana

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Marcia Chame

Senhor Expedito - Foto de Marcia ChameÉ importante relembrar a importância das espécies para a saúde. Delas dependem a segurança alimentar da espécie humana, água de boa qualidade para antes de tudo beber e viver, o desenvolvimento e a inspiração de novos medicamentos e materiais, espaços abertos de conforto climático, de ar limpo, de silêncio e contemplação para uma vida de qualidade e equilibrada.

Mas não só o uso direto de espécies oferece serviços às pessoas e a sua saúde. As relações complexas que se estabeleceram entre elas ao longo do tempo garantem que a parte viva da Terra – a Biosfera - possa se manter equilibrada e permitir a vida, especialmente a vida humana.

A biodiversidade cumpre assim outros papéis e se relaciona a nossa saúde de muitas formas. A capacidade de diluir doenças, especialmente aquelas transmitidas por vetores, é uma delas. Como a maior parte dos patógenos está dispersa em outras tantas espécies de hospedeiros e, dentre elas, existem espécies que são boas e más mantenedoras desses patógenos, a riqueza de espécies no ecossistema reduz a possibilidade de transmissão do patógeno de um hospedeiro para o outro. O papel dos predadores, como as onças, jaguatiricas e gaviões, raramente são relacionados à nossa saúde. No entanto, nos ambientes onde as populações de predadores estão presentes, estes exercem controle sobre as populações de pequenos animais, como roedores, cujas populações podem crescer rapidamente e seu adensamento e ocupação de espaços próximas às habitações humanas pode aumentar o risco de transmissão de doenças. Muitas outras relações estão em estudo e não são simples de serem desvendadas, pois envolvem muitas espécies em ambientes de alta complexidade. No entanto, já temos bons exemplos de como a biodiversidade interfere na saúde, como é o caso do risco de doença de Chagas na Amazônia.

Nos últimos 100 anos a biodiversidade vem sendo fortemente ameaçada pelas mais diversas atividades humanas. O Efeito das mudanças ambientais sobre o risco de doenças compartilhadas entre animais e homens é cada vez maior em razão do desequilíbrio estabelecido por essas mudanças (Estrada-Peña et al., 2014). 

A visão do Plano Estratégico para a Biodiversidade 2011-2020, Decisão X/2, CDB preconiza que “Até 2050, a biodiversidade será valorizada, conservada, restaurada e usada sabiamente, mantendo os serviços ecossistêmicos, sustentando um planeta saudável e oferecendo benefícios essenciais a todas as pessoas”. Só chegaremos lá se ações efetivas, intensas e globais forem localmente empreendidas por todos.

Conservar e garantir a saúde silvestre e de seus ecossistemas é garantir também a saúde humana.