Estudo propõe uma nova estratégia para estimar a diversidade viral

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Hugo Lopes Guimarães

Segundo estudo publicado por Simon Anthony e colaboradores, em 2013, na revista mBio, estimar corretamente a diversidade viral pode fornecer subsídios para melhorar a vigilância sobre as zoonoses emergentes. Uma grande parte das zoonoses que têm origem em animais silvestres são causadas por vírus. Os autores ressaltam que infelizmente não existem estimativas confiáveis para quantificar o total da diversidade de vírus que ocorrem nestes animais e propõe uma nova estratégia combinando as investigações de campo com uma nova abordagem estatística. Para calcular o número de vírus, os cientistas estudaram uma espécie de morcego, Pteropus giganteus, encontrado no subcontinente indiano e China e conhecido por abrigar patógenos zoonóticos, como o vírus Nipah. Foram coletadas 1.897 amostras biológicas destes animais durante um período de cinco anos em Bangladesh, o que permitiu serem encontrados um total de 58 vírus.

Considerando que existem 5.486 espécies de mamíferos conhecidos, pode-se prever que existam aproximadamente de 320.000 vírus a serem descobertos nestes animais. Até agora alguns cientistas estimavam a existência de milhões de vírus a serem descobertos em mamíferos e o avanço deste estudo é apresentar um número bem menor e apoiado estatisticamente, tornando plausível com as técnicas atuais inventariar uma parte significativa deles. Os autores quantificam que para descobrir ou identificar todos estes vírus, seria necessário um aporte financeiro de US$ 6,3 bilhões distribuídos ao longo de 10 anos, o que segundo eles é apenas uma pequena fração do impacto econômico de uma pandemia zoonótica, como por exemplo, o Surto da Síndrome Respiratória Aguda Severa (SARS), ocorrido em 2003 e que teve um o custo em perdas financeiras estimado em US$ 16 bilhões. Eles sugerem também a existência de um programa para mapear todos esses vírus poderá auxiliar a compreensão da ecologia viral e os mecanismos de surgimento das doenças, podendo assim, agilizar o reconhecimento e as ações de intervenção para evitá-las. Poucas espécies tem a quantidade de estudos como as de morcegos utilizados neste trabalho, sendo assim devemos levar em consideração o desafio de aplicar essa nova abordagem em espécies não tão conhecidas e provenientes de outras regiões zoogeográficas e especialmente no Brasil, líder em megadiversidade, país que deveria incrementar o estudo de suas espécies.